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Soledad encerra temporada no Hermilo


A trajetória de vida e luta da militante de esquerda, Soledad Barrett Viedma, assassinada no Recife durante a Ditadura Militar, é contada por meio de um monólogo poético, que também faz referências ao período atual da política brasileira

Publicado: 18/09/2015

Ascom Sindsep

O espetáculo ‘Soledad - A terra é fogo sob nossos pés’ chega a sua última semana, encerrando temporada no próximo dia 20, no teatro Hermilo Borba Filho. Ele será encenado de hoje e amanhã, às 20h, e no domingo, às 19h. A trajetória de vida e luta da militante de esquerda, Soledad Barrett Viedma, assassinada no Recife durante a Ditadura Militar, é contada por meio de um monólogo poético, que também faz referências ao período atual da política brasileira. Os ingressos serão vendidos ao preço de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria do teatro. Nessa última semana, todos que levarem um flyer que está sendo distribuído pela cidade paga apenas meia entrada.

A peça, do grupo Cria do Palco, que recebeu apoio do Sindsep-PE, está sendo encenada pela atriz pernambucana e idealizadora do espetáculo, Hilda Torres, e tem direção da atriz e diretora paulista, Malú Bazan. As duas também são responsáveis pelo texto do monólogo. A artista plástica Ñasaindy de Araújo Barrett, filha de Soledad, assina algumas músicas e a identidade visual do projeto.

O espetáculo estabelece um diálogo intenso com a música. Lucas Notaro assina a direção musical. Assim também é com a luz criada por Eron Villar, ator, diretor e iluminador. A coordenação de produção fica por conta de Márcio Santos jornalista e músico e a produção executiva é de Karuna de Paula. 

“Falar sobre Soledad é traçar um caminho de poesia onde a dor e a alegria estão juntas, seguindo em marcha para erguer os ideais libertadores. Falar sobre ‘Sol’ é falar de um pedaço de todos nós que nos impulsiona diariamente a enfrentar, resistir, sem nunca abrir mão do brilho nos olhos ao imaginar um mundo melhor com direitos iguais para todos e todas na compreensão das nossas diferenças”, comentou Hilda Torres. 

A montagem sobre a vida de Soledad nasceu de uma pesquisa intensa que teve início depois que Hilda ganhou de um amigo o livro ‘Soledad no Recife’, de Urariano Mota, no ano de 2014. A partir de então teve início uma série de entrevistas e pesquisa documental sobre a vida da guerrilheira paraguaia. Entrevistas com ex-presos políticos, parentes de pessoas desaparecidas durante a ditadura brasileira, militantes que tiveram, ou não, contato com Soledad. Pesquisa em documentos da época e no relatório final da Comissão da Verdade.   

Malú Bázan, nascida na Argentina e integrante do grupo Tapa de teatro desde 2000, ingressou no projeto depois de vir morar em Recife para fazer um intercâmbio artístico-cultural atrás de trocas de experiências. “Assisti Hilda em uma peça encenada em sua própria casa. Incômodos, de Cícero Belmar. Ela me falou sobre o projeto Soledad. A partir desse encontro iniciamos uma trajetória em parceria para a criação dessa história”, destacou.

Um outro importante encontro foi com Ñasaindy Barrett. Depois de alguns contatos, a filha de Soledad, que reside em São Paulo, visitou o Recife e gravou poemas e músicas que integrarão a trilha sonora do espetáculo.

A MILITANTE

Soledad Barret foi militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Nascida no Paraguai, ela era de uma família culta e politizada. Era neta do renomado escritor, jornalista, intelectual e líder anarquista, nascido na Espanha, Rafael Barrett, que foi morar no Paraguai e deixou uma marca nas lutas sociais de uma época.

Por causa do ativismo político de sua família, que os obrigava ao exílio constante, Soledad também viveu na Argentina e Uruguai, além de Cuba e Brasil. Aos 17 anos, foi sequestrada, em Montevidéu, por um grupo de neonazistas que exigiram que ela dissesse a frase ‘viva Hitler’. Diante da negativa, marcaram suas coxas com suásticas nazistas. A partir daí, ela decidiu ingressar de vez na luta política.

Foi estudar na União Soviética, onde ficou por um ano, pelo Partido Comunista. Na despedida do Uruguai, Soledad, que era conhecida por levantar a bandeira entre as nações de que “A Pátria não é um só lugar", disse a um amigo: "La tierra es fuego bajo nuestros piés", frase do subtítulo da peça a ser encenada no Recife. Retornando a América Latina ela se estabeleceu por um período na Argentina e integrou um movimento que tinha como plano invadir o Paraguai. O plano não deu certo e logo Soledad seguiu para Cuba, onde treinou a luta armada.

Em Cuba, ela conheceu o brasileiro José Maria Ferreira de Araújo, militante da VPR exilado na ilha, que viria a ser o pai de Ñasaindy de Araújo Barrett. José Maria retornou ao Brasil e Soledad acabou por vir um ano mais tarde. Pouco depois de chegar, soube que ele tinha sido capturado e morto. Soledad encontrou em sua morte mais uma razão para continuar a luta contra as ditaduras que dominavam os países latino-americanos.

No Brasil, ela conhece o cabo Anselmo, que era amigo e companheiro de José Maria na VPR. Ao longo do tempo, as suas vidas se aproximando e ele acaba se tornando o novo companheiro de Soledad. Cabo Anselmo é apontado como um dos líderes do protesto dos marinheiros em 1964. Integrou o movimento de resistência à ditadura nos anos 1960 e, na década de 1970, atuou como colaborador do regime militar. Mas, na verdade, ele era um agente policial infiltrado.

Foi Anselmo quem entregou o esconderijo dos membros do VPR em Pernambuco, uma chácara no loteamento São Bento, no município de Paulista. Junto com outros companheiros, Eudaldo Gomes da Silva, Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques e José Manoel da Silva, estava Soledad. Detalhe, em diversos depoimentos de conhecidos de Soledad afirma-se que ela estava grávida, esperando um filho do próprio cabo Anselmo. 

Segundo a versão oficial, os militantes foram mortos numa troca de tiros na chácara. O jornalista Elio Gaspari, em “A ditadura escancarada”, classifica o episódio como “uma das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura”. 

SERVIÇO:

Espetáculo: Soledad - A terra é fogo sob nossos pés

Quando: Sexta e sábado, às 20h, e no domingo, às 19h.

Local: Hermilo Borba Filho

Ingressos: R$ 30 (inteira) – R$ 15 (meia) 

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