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Qual teoria justifica a atual política de juros do BC?


Ao manter os juros nesse patamar, o Banco Central se revela um fariseu, afinal sua prática não se justifica sequer em sua própria doutrina

Publicado: 24/03/2023

Do GGN

Por Vitor Hugo Tonin

Desafio a diretoria do Banco Central a demonstrar a teoria monetária ou o modelo econométrico que justifique um juro de 13,75% para controlar uma inflação esperada de 6%. Hoje o Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. Essa decisão tem diversos impactos na economia brasileira, já que se trata de definir o preço mínimo do dinheiro no país. Sim, dinheiro tem preço, porque é uma mercadoria, é esse preço é tabelado pelo Banco Central.

Essa decisão tem impacto direto: i) sobre a decisão de consumo das famílias; ii) sobre a decisão das empresas e dos governos em investir; iii) sobre a decisão dos investidores do mercado financeiro; iv) sobre os custos das instituições financeiras; v) sobre o custo financeiro das empresas não financeiras e, por fim, vi) sobre o custo financeiro dos próprios governos.

O Banco Central diz que o objetivo é proteger a moeda brasileira do seu principal inimigo: a inflação. Um objetivo virtuoso, incapaz de ser condenado. Existem duas grandes linhas de interpretação sobre a inflação**. A primeira, de que a inflação seria causada pelo aumento dos preços de custo. Nesse caso, o remédio mais adequado seria aumentar a oferta de bens, para que esses preços caiam.

A segunda, é de que a inflação seria causada por um aumento de demanda, ou seja, do consumo das famílias, dos governos e das empresas. Nesse caso, elevar o preço do dinheiro (o juro) estimularia famílias, empresas e governos a guardar dinheiro ou pelo menos se endividar menos, já que o dinheiro fica mais caro.

Ambas têm em comum o desencontro entre oferta e demanda como expressão concomitante à inflação. Entretanto, a diferença de interpretação sobre as causas desse desencontro é crucial para definir as medidas econômicas de combate à inflação. Isso se torna ainda mais importante se considerarmos que ambas podem ocorrer. Isto é, dado o baixo nível de abstração desse fenômeno, pode ser que em determinado momento haja inflação de custos e em outro de demanda. E até uma mistura dos dois. Sendo que o critério da razão são os dados concretos da conjuntura.

Adotemos, por um instante, em um exercício de generosidade com os diretores do Banco Central, que a inflação brasileira seja exclusivamente de demanda. E que de fato seja necessário aumentar o preço do dinheiro para incentivar o menor gasto e endividamento do governo, das empresas e das famílias. Nesse caso, o juro tem que subir quanto? Qual o preço ideal dinheiro para atingir esse efeito?  Essa questão é crucial pois sabe-se que a diferença entre o remédio e o veneno se encontra na dosagem.

Os agentes do mercado financeiro, ouvidos e divulgados pelo Banco Central através do Boletim Focus,  dizem que a inflação esperada para este ano é de 6%. Também é fato conhecido e notório que a inflação vem caindo de forma acelerada nos últimos oito meses. Diante disso, um juro de 7% já não seria suficiente? Ou oito por cento? Ou nove? É necessário 13,75% de juros para conter uma inflação esperada de 6% em um contexto de redução da inflação? É necessário o maior juro real do mundo no Brasil hoje? Desconheço teórica monetária ou modelo econométrico que recomende isso, por mais conservador e ortodoxo que seja.

Ao manter os juros nesse patamar, o Banco Central se revela um fariseu, afinal sua prática não se justifica sequer em sua própria doutrina. Então cabe a pergunta a qual doutrina o Banco Central está respondendo? Quais objetivos persegue? De qual autonomia estamos tratando?

**Embora em nossa opinião nenhuma dessas linhas respondam a realidade brasileira, é dessa forma simplificada que o debate ocorre no grande público.

Vitor Hugo Tonin é doutor em Desenvolvimento Econômico e economista na cooperativa de crédito Cresol SP.

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