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Morte de Ebrahim Raisi abre nova fase na política e relações internacionais do Irã


Peça-chave na geopolítica do Oriente Médio, país enfrenta momento de incerteza e transição

Publicado: 24/05/2024

Milhares de iranianos se reuniram para início do funeral de Ebrahim Raisi nesta terça-feira (21) - Foto: AFP Photo/HO/Iranian Presidency

Do Brasil de Fato

Ebrahim Raisi, presidente do Irã, morreu em um acidente de helicóptero no último domingo (19). Apesar de não ser a figura mais importante na política do país – posto ocupado por Ali Khamenei, o aiatolá e líder supremo da nação – Raisi foi responsável por mudar a imagem do Irã tinha frente à comunidade internacional. 

Para comentar as implicações geopolíticas da morte de Raisi e a disputa pelo poder no país, o podcast Três por Quatro, programa produzido pelo Brasil de Fato, convidou Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O podcast é apresentado pelos jornalistas Nara Lacerda e Igor Carvalho e conta com João Pedro Stédile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), como convidado fixo.

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"O governo de Ebrahim Raisi foi muito bem-sucedido em retirar a imagem de nação pária que o Irã tinha [...] atualmente, o Irã está demonstrando que há vida além do Ocidente. Isso é resultado das transformações geopolíticas que temos observado no mundo nos últimos anos. O Irã faz parte do Brics atualmente", afirmou Huberman.

Ebrahim Raisi, que assumiu a presidência em 2021, deixou uma marca conservadora durante seu mandato. Ele era alinhado com o aiatolá Khamenei e se colocava como seu possível sucessor. Agora, Mohammad Mokhber, o vice-presidente, permanece como o líder interino do país. As eleições para a escolha do novo presidente acontece no dia 28 de junho.

Peça-chave na geopolítica do Oriente Médio, o país enfrenta um momento de incerteza e transição, o que pode ter repercussões significativas em suas políticas externas e internas. 

Em termos externos, Huberman afirma que as relações entre Irã e Israel estavam estremecidas. Em abril, Israel bombardeou um prédio do consulado do Irã na capital da Síria, Damasco, provocando ao menos 11 mortes. Em retaliação, o Irã realizou um ataque ao território israelense com mísseis e drones, que foi neutralizado. De acordo com analistas, o objetivo de Israel ao provocar a entrada do Irã no conflito no Oriente Médio era mobilizar mais apoio internacional às suas ações em Gaza, o que não aconteceu. 

Diante disso, o professor da PUC destaca o reconhecimento do Estado da Palestina pela Espanha e outros países europeus nesta quarta-feira (22). Segundo ele, "isso representa outra fissura; a aliança entre a Europa e Israel está se fragmentando [...] nesse contexto de vulnerabilidade e isolamento diplomático de Israel, o ataque iraniano teve um impacto significativo naquele momento".

Aproximação Irã e China e desconforto estadunidense

Mesmo contra a vontade pessoal de Ebrahim Raisi, o governo do Irã, graças à intermediação da China, juntou-se à aliança formada em março de 2023, que aproximou diplomaticamente o país à Arábia Saudita. A aliança visa não só apoiar o comércio e negócios entre as nações, o que já favorece o Irã, mas também minimizar o poder de atuação dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Neste contexto, Huberman ressalta a importância da China no intermédio das negociações internacionais, especialmente entre Irã e Arábia Saudita e outras nações da região. Através do acordo criado em 2013, conhecido como Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), a potência asiática tem desafiado os interesses comerciais norte-americanos.

"Houve uma aproximação com os países islâmicos, uma aproximação com os países árabes, essa normalização com a Arábia Saudita, essa grande solidariedade com a causa palestina [...] houve aproximação com a China e aliança militar com a Rússia. Essa aliança que o Irã tem feito com a Rússia e a China tem permitido uma maior autonomia para todos os países da região", afirma.

Huberman ainda explica que "essas coligações estão sendo criadas pelo Irã em prol de sua saúde econômica e aprofundam a disputa geopolítica entre China e Estados Unidos". Ele enfatiza que a condição de "estabilidade da política interna e externa" mediante as conciliações firmadas nos mandatos anteriores "contraria os interesses capitalistas estadunidenses".

Disputa de interesses e sanções de EUA pelo mundo

O governo do republicano Donald Trump rompeu o acordo nuclear com o Irã e reforçou bloqueios econômicos contra o país, dificultando o comércio com parceiros do próprio Oriente Médio. Atualmente, o país é a segunda nação mais sancionada do mundo. 

Huberman observa que "há sanções financeiras, sanções contra indivíduos, sanções à importação e exportação comercial, e restrições à participação em acordos comerciais". Ele destaca ainda que, para a população iraniana, "a vida é sofrida, muito por causa das sanções, que limitam significativamente a capacidade de bem-estar do povo iraniano".

Esses bloqueios e entraves têm o poder de prejudicar uma nação tanto no macro quanto no micro, desde impedimentos em ações diplomáticas e comércio internacional até questões de necessidades menores. "Um exemplo é a aeronave que transportava Ebrahim Raisi: um helicóptero Bell 212, fabricado entre 1968 e 1978, ou seja, o helicóptero que transportava o presidente do Irã tinha mais de 40 anos desde sua fabricação."

Novos episódios do Três por Quatro são lançados toda sexta-feira pela manhã, discutindo os principais acontecimentos e a conjuntura política do país e do mundo.

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