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Golpe de Lemann, Sicupira e Telles na Eletrobrás é resquício do golpe contra Dilma


Cobiça pela Eletrobrás é antiga e mostra que golpe contra Dilma fez parte de uma negociata entre direita, seja ela fascista ou não, e sistema financeiro neoliberal para usurpar o patrimônio público brasileiro

Publicado: 15/06/2023

Da Fórum

Por Plinio Teodoro

Passados quase 7 anos do golpe parlamentar que tirou Dilma Rousseff (PT) da Presidência - em 31 de agosto de 2016 -, atores do conluio criminoso seguem dando novos golpes para se manterem no comando de estatais que lhes foram entregues como prêmio por apoiarem a ascensão do fascismo neoliberal no Brasil.

A negociata armada por Michel Temer junto a agentes do sistema financeiro fatiou as riquezas do Estado e estava sendo entregue sob o autoritarismo do governo Jair Bolsonaro para pagar a fatura.

Foi o que aconteceu com a Eletrobrás, em uma história repetida à exaustão pelos eletricitários e ignorada por Paulo Guedes e sua trupe, em um verdadeiro crime de lesa-pátria como denunciado por Lula, que busca retomar o controle da empresa.

Gravação de uma reunião interna revelada pela Folha de S.Paulo na última segunda-feira (12) mostra que a Eletrobrás era alvo de cobiça do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles - os mesmos que quebraram as lojas Americanas - há muitos anos e entrou na fatura do apoio ao golpe de Temer.

Com menos de 0,05% das ações ordinárias, que dão direito a voto, e 10,88% das ações preferenciais, o grupo 3G Capital, do trio de bilionários, obteve, por meio da subsidiária 3G Radar, o controle da Eletrobrás, indicando o presidente, 4 dos 9 conselheiros de administração e a diretora-financeira da empresa, que ainda tem a União como maior acionista - com 28,95% das ações ordinárias, fora as participações do BNDES e de outros agentes estatais, como o Banco do Nordeste.

"As gravações são a prova do conluio, daquilo que a gente já vinha anunciando desde antes da privatização. Porque desde o começo do governo Temer, a gente já percebia essa movimentação do Grupo 3G dentro da Eletrobrás", aponta Íkaro Chaves, engenheiro eletricista da Eletronorte e Diretor da AESEL (Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras), que acompanhou todo o processo de entrega da Eletrobras ao grupo comandado por Lemann, que tem fortuna estimada em R$ 15,6 bilhões.

Cobiça

A cobiça pela Eletrobrás remonta a 1997, como conta na gravação o próprio Pedro Batista de Lima Filho, da 3G Radar que se tornou conselheiro por meio de um golpe logo após a privatização, iniciando a estratégia de levar o trio de bilionários ao comando da empresa.

"A 3G completa dez anos em 2023, e somos há dez anos acionistas da Eletrobrás. Foi uma das primeiras ações que a gente comprou, e em 2013 era um momento complicadíssimo da Eletrobrás. Mas a gente tinha um visão muito clara do valor da companhia, sabia dos problemas e dos riscos. E por que a gente sabia disso? Desde 1997, eu descobri que não tem como a gente entender o setor elétrico sem entender a Eletrobrás, dada a relevância dessa empresa para o setor elétrico", contou ele na reunião internada empresa, que teve o áudio vazado.

Pedro e a 3G Radar fizeram um estudo ainda durante o governo Temer indicando que era necessária a privatização da Eletrobrás. O conluio seguiu com Paulo Guedes e Bolsonaro, que fez com que a União abrisse mão de voto na decisão que o colocou no Conselho de Administração logo após a entrega da estatal. Batista ocupou a cadeira por indicação dos preferencialistas, dominado pela 3G Radar.

Funcionária de carreira de Lemann desde 1990, quando entrou como especialista financeira na Ambev, Elvira Baracuhy Cavalcanti Presta foi alçada ao conselho de administração da EletrobrÁs em abril de 2018, ainda no governo Temer, e em ascensão meteórica chegou à Diretora Financeira e de Relações com Investidores em março de 2019.

Completam o time de confiança de Lemann, Sicupira e Telles no Conselho de Administração da Eletrobrás Vicente Falconi Campos e Felipe Villela Dias, que foram escolhidos a dedo por Batista para os cargos. 

Segundo Chaves, outros dois conselheiros foram indicados pela União com a anuência de Paulo Guedes, ex-ministro de Bolsonaro e fundador do Banco BTG Pactual, que também participou dos estudos para privatização da empresa.

Conluio se fecha

Além dos quatro conselheiros, Batista, que atua a mando da 3G Capital, foi quem escolheu Ivan Monteiro para presidir o colegiado, que tem 9 membros ao todo. E quem conta isso é o próprio Monteiro na gravação revelada pela Folha.

"A gente foi jantar. Ele é o autor da frase. 'Queria te convidar para um projeto nos próximos dez anos.' Adorei. Eu definitivamente não sou velocista. Sou maratonista. A conversa foi extremamente agradável. Ele mencionou alguns nomes. Ali a gente começou a arquitetar o sequestro do Wilson", disse Monteiro, referindo-se a Wilson Ferreira Jr.

Wilson Ferreira Jr. foi alçado à Presidência da Eletrobrás em 2016, em meio ao golpe contra Dilma. No cargo, coordenou junto com Temer todo processo de privatização da empresa. Saiu em 2021 e retornou em setembro de 2022, logo após a privatização.

O que ocorre na Eletrobrás mostra que o golpe foi uma negociata entre direita, seja ela fascista ou não, e sistema financeiro neoliberal para usurpar o patrimônio público brasileiro.

Lula tem a chance de reverter, ao menos em parte, esse crime de lesa-pátria - como ele mesmo definiu. E deveria começar pela Eletrobrás.

PLINIO TEODORO é jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas
 

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