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“Geddel tem boca de jacaré para receber”, diz Funaro


Relatório da PF sobre mensagens em celular apreendido mostra o empresário Lúcio Funaro falando em pressão do ministro de Temer dentro do fundo de investimento da Caixa

Publicado: 08/09/2016

Da Época

Acusado de ser o operador financeiro do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o empresário Lúcio Funaro, preso pela Operação Lava Jato, foi flagrado em mensagens de celular acusando Geddel Vieira Lima, um dos ministros mais influentes do governo Michel Temer, de fazer pressão numa operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS. 

Segundo a Polícia Federal, Geddel tinha “preocupação exacerbada”sobre um aporte do banco para o grupo J.Malucelli, no valor de R$ 30,6 milhões, o primeiro de um total de R$ 330 milhões.

Esse é o primeiro indício da atuação de Geddel dentro do FI-FGTS, uma das novas frentes da Lava Jato que faz uma devassa nos aportes multibilionários bancados pela Caixa Econômica. Geddel foi vice-presidente do banco entre 2011 e 2013 e já admitiu publicamente que se encontrava com Funaro, mas disse que eram encontros de cortesia. Funaro, por sua vez, é acusado de ser o operador financeiro dos desvios de dinheiro do FI-FGTS, feudo controlado pelo PMDB (incluindo aí, Cunha) e que envolve megaempresas, como Odebrecht e a Eldorado Celulose, empresa do grupo que controla marcas como JBS e Friboi. Para a PGR, havia pressão política para liberar investimentos para empresas do esquema, em troca de propina

As mensagens, obtidas por ÉPOCA, constam de perícia realizada pela Polícia Federal no celular de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa e agora delator na Lava Jato. As conversas são de 2012, período que Cleto admitiu à Lava Jato operar dentro do FI-FGTS, a mando de Funaro e Cunha – em troca, ele disse que recebia propina. Geddel e a J.Malucelli não foram citados na delação de Cleto.

Nas mensagens, Cleto e Funaro usavam códigos, de acordo com o Relatório de Análise de Material Apreendido 049/2016. Funaro era “lucky” (sortudo). Cleto era GGeko, uma referência ao ganancioso investidor do filme Wall Street (1987), Gordon Gekko. 

“Ele é boca de jacaré para receber e carneirinho para trabalhar e ainda reclamão”, escreveu Funaro numa mensagem de texto a Cleto. Conhecido pelo temperamento explosivo e verborrágico, Funaro diz ainda que tinha “condição total se ele me encher o saco de ir para porrada com ele”. Cleto relata pressão de Geddel:

Relatório mostra conversa entre Funaro e Fábio Cleto sobre o ministro Geddel (Foto: Reprodução)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A conversa entre Cleto e Funaro gira em torno de operação financeira da Caixa em favor da empresa J.Malucelli Energia. Trata-se de um investimento do FI-FGTS no valor de R$ 330 milhões. O primeiro depósito aconteceu em 2012, no valor de R$ 30,6 milhões.

“Ele está louco atrás dessa operação da Malucelli. Já me cobrou umas 30 vezes”, diz Cleto. Funaro, por sua vez, sugere dificultar o negócio. “Segura essa m... Ele quer f... tudo que não participa. É um porco.” No relatório, a PF não esclarece o contexto da conversa sobre as cobranças. 

Geddel, além de ser vice-presidente da Caixa indicado por Michel Temer, era também membro do Conselho de Administração da J.Malucelli Energia – o FI-FGTS era sócio no negócio. “Em princípio, trata-se de uma transação típica de negócio da Caixa, porém, analisando-se os diálogos, verifica-se que Geddel demonstrava uma preocupação exacerbada a esse aporte à J.Malucelli, segundo palavras de Fábio Cleto”, diz a PF no relatório.

Para os investigadores, essas mensagens devem basear novas investigações. “Chamou a atenção ainda a comunicação de aporte financeiro de R$ 30,6 milhões que Fábio Cleto recebera da diretora executiva de Fundos da Caixa, sra. Deusdina Pereira, operação de grande interesse, segundo Cleto, do vice-presidente da Caixa, sr. Geddel Vieira Lima, atual ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República do Governo provisório Michel Temer. Os indícios suscitados neste relatório, oportunamente, poderão subsidiar investigações pontuais sobre os fatos apontados.”

Documento do FI-FGTS mostra o aporte citado na conversa de Funaro com Cleto (Foto: Reprodução)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BR VIAS

Em sua delação, Fábio Cleto disse que recebeu propina para atuar em favor da BR Vias, grupo controlado pela família Constantino, como revelou ÉPOCA. Segundo Cleto, ele recebeu R$ 120 mil, o que equivaleria a 4% da propina. Cleto disse que as ordens partiam de Funaro, que seria próximo do empresário Henrique Constantino.

As mensagens de texto trocadas por Funaro citam o empresário e o presidente Michel Temer. De novo, trata-se de reclamações sobre a atuação de Geddel. “Tal empresário é nominalmente citado nas mensagens e aparentemente reclama do andamento das negociações”, resume a PF. De acordo com o relatório, depois das reclamações de Henrique Constantino, Funaro passa a ameaçar Geddel de acionar Michel Temer, então vice-presidente da República. “Se ele não resolver vou f... ele no Michel”, escreveu Funaro.

Procurado, o ministro Geddel disse que tinha “influência zero” nos investimentos do FI-FGTS. “Caso típico de utilização do nome. Preocupação zero”, disse. O advogado de Lúcio Funaro, Daniel Gerber, disse que as conversas “não representam ilícitos e a defesa provará a inocência nos autos”. O advogado de Fábio Cleto, Adriano Salles Vanni, disse que desconhece os diálogos. Quando o caso foi divulgado, a Eldorado e a BR Vias negaram as acusações de Fábio Cleto. A assessoria da J.Malucelli não foi localizada e o texto será atualizado assim que houver uma posição. 

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