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Financial Times não se informa com a mídia brasileira


“Enquanto a América promove a guerra, a China promove a paz. Enquanto a China promove o comércio, os EUA impõem sanções econômicas”

Publicado: 18/04/2023

Por Luis Nassif
Do GGN

Definitivamente, o mais influente jornal econômico do planeta, o Financial Times, não lê nem assiste a mídia brasileira. Em relação ao papel diplomático do Brasil – e Lula – no mundo, o comentarista internacional da CNN garantiu que Lula só é visitado pelos presidentes das maiores potências globais devido à Amazônia.

Na viagem à China, o que se viu foi uma atoarda de críticas sobre a imprudência de condenar a participação dos Estados Unidos na guerra e, segundo uma proeminente comentarista de jornal de TV, trocar um mundo unipolar por outro – o que leva à conclusão de que ela considera que bipolaridade é a soma de duas unipolaridades.

Nenhuma preocupação em contextualizar as declarações, em analisar os reflexos nas grandes disputas geopolíticas. Tratam um episódio de alta repercussão como se fosse uma mera discussão de bar, ou de torcida de futebol.

No artigo “Como a guerra na Ucrânia dividiu o mundo”, o articulista Gideon Rachman também confere o peso adequado às declarações de Lula. 

O primeiro parágrafo é dedicado ao sucesso da diplomacia chinesa que conseguiu, em uma semana, uma visita do presidente Emmanuel Macron, da França, e de Lula, do Brasil. E nem menciona a Amazônia. Enquanto isto, o presidente norte-americano Joe Biden “fazia uma viagem sentimental à Irlanda”.

O artigo prossegue citando as críticas de Lula aos EUA, por incentivar a guerra e também pelo poder do dólar, como moeda única. Não se deve esquecer que esse poder foi utilizado politicamente em pelo menos duas oportunidades: impedindo os bancos russos de participar do Swift (o sistema de troca de reservas entre os bancos) e o confisco das reservas cambiais venezuelanas.

Diz o comentarista: “As mensagens preferidas de Xi e da China para o mundo são claras: “Enquanto a América promove a guerra, a China promove a paz. Enquanto a China promove o comércio, os Estados Unidos impõem sanções econômicas”.

Esses movimentos estão causando preocupação em Larry Summers, o poderoso ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos.

Gideon Rachman mencionou conversa com um país em desenvolvimento que lhe disse que da China ganhou um aeroporto e da América uma palestra.

E as críticas ao papel dos EUA não ficaram restritas a Lula. O artigo menciona Pratap Bhanu Mehta, um eminente cientista político indiano, para quem, “para grande parte do mundo, a reação dos Estados Unidos à invasão russa parece ser tão problemática quanto a própria invasão”.

Vista dos Estados Unidos e de grande parte da Europa, a invasão da Ucrânia seria um evento único – uma guerra de conquista territorial -, que merece uma resposta única. Houve sanções econômicas sem precedentes, congelaram reservas cambiais russas. E a Rússia não soçobrou porque manteve comércio com número substancial de países, incluindo a China, Índia e Brasil.

Vale a declaração de S. Jaishankar, Ministro das Relações Exteriores da Índia, de que a Europa pensa que os “problemas da Europa são os problemas do mundo, mas que os problemas do mundo não são os problemas da Europa”. A prova é o impacto nos preços dos alimentos e da energia. O congelamento das reservas russas acendeu a luz vermelha em todos os países, sobre o perigo potencial de manter ativos em dólares.

A dúvida é consistente. E se, no fragor das batalhas diplomáticas com a China, os EUA impusessem sanções financeiras ao estilo da Rússia para a maior nação comercial do mundo. Em vez de reduzir o comércio com a China, o movimento dos parceiros passou a ser  reduzir o comércio em dólares.

Conclui Rachman: “Os EUA podem estar certos de que a guerra na Ucrânia é uma luta de significado transcendente. Mas se não conseguir persuadir ou intimidar o resto do mundo a concordar, a própria posição global dos Estados Unidos pode ser corroída”.

Moral da história: em temas de tal complexidade, com tais desdobramentos, é chocante a incapacidade da mídia brasileira de tratar com um mínimo de profundidade questões que mexem com toda a humanidade, declarações diplomáticas de alto impacto e consequências sendo analisadas como se fossem bate-boca de bares.

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