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SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Publicado: 28/11/2024
Escrito por: Le Monde Diplomatique
O ESG (Environmental, Social and Governance) tem sido amplamente promovido como uma ferramenta moderna para enfrentar os desafios climáticos, sociais e empresariais do século XXI. No entanto, essa abordagem não passa de um remendo superficial em um sistema intrinsicamente insustentável devido ao próprio capitalismo. Embora tenha objetivos nobres, o ESG falha em abordar as raízes da crise ambiental, social e empresarial, limitando-se meramente a promover práticas empresariais que se ajustam à lógica do lucro. Como apontam Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo em seu livro, Dinheiro: o poder da abstração real (2021, p.21): “As decisões cruciais no capitalismo são tomadas pelos donos da riqueza e de sua forma suprema, o dinheiro”2.
A lógica que sustenta o ESG é inerentemente contraditória, pois pretende alavancar a melhoria da imagem de grandes corporações, enquanto suas atividades destrutivas permanecem inalteradas. Muitas vezes, suas práticas se transformam em greenwashing, o que ajuda a melhorar a imagem dessas corporações, enquanto suas atividades destrutivas continuam inalteradas. Assim, o ESG frequentemente se torna uma ferramenta de relações públicas, servindo como bandeira para o chamado “capitalismo consciente” – um conceito que mascara a continuidade da lógica da acumulação de capital.
Marx e o ESG: Contradições fundamentais
Marx, em sua análise do capitalismo, já apontava que o sistema capitalista é fundamentado na exploração do trabalho e dos recursos naturais, uma dinâmica que impede qualquer possibilidade realista de sustentabilidade. A busca incansável e reacionária pelo lucro, que caracteriza o capitalismo, é incompatível com a preservação ambiental, tendo em vista que o capital se expande e acumula através da exploração e destruição dos recursos finitos do planeta.
O capital não se importa com o tempo de vida da força de trabalho. O que lhe interessa é única e exclusivamente o máximo da força de trabalho que pode ser posta em movimento numa jornada de trabalho. Ele atinge esse objetivo por meio do encurtamento da duração da força de trabalho, como um agricultor ganancioso que obtém uma maior produtividade da terra roubando dela sua fertilidade.3
Esta analogia aplica-se diretamente aos processos ESG. Tal como o capital ignora os limites do trabalho humano, também ignora os limites da terra, explorando os recursos naturais até à exaustão para maximizar os lucros. Em vez de resolver os problemas que pretende resolver, o ESG perpetua a lógica destrutiva do capitalismo e defende soluções superficiais enquanto o sistema permanece intacto.
Em Crítica do Programa de Gotha, Marx reforça que a riqueza é produzida não apenas pelas ações humanas, mas também pela exploração da natureza, indo contra as ideias de Ferdinand Lassalle e seus discípulos, reforçando a noção de que o trabalho não é a única fonte de riqueza. Adicionalmente, Marx afirma que “Dizer que a vida psíquica e intelectual do homem está indissoluvelmente ligada à natureza não significa outra coisa senão que a natureza está indissoluvelmente ligada com ela mesma, pois o homem é uma parte da natureza.” (Marx, 1962, p. 62-87)4. Esta citação aprofunda a crítica do filósofo ao capitalismo, destacando a conexão intrínseca entre o ser humano e a natureza. O capitalismo, ao desvincular o homem de sua relação com o ambiente natural, transforma essa relação em uma mera fonte de recursos a serem explorados para o lucro, negligenciando as consequências dessa exploração.
ESG e desigualdade global
Além de suas limitações, é importante observar que, em algumas frentes, o ESG perpetua uma desigualdade global, operando dentro de um sistema em que países centrais acumulam riquezas às custas das nações periféricas, que continuam sendo exploradas para fornecer matéria-prima e mão de obra barata. Em vez de confrontar essa dinâmica, o ESG demonstra o capitalismo verde em sua forma mais cruel: os que menos contribuíram para a crise ambiental são os que mais sofrem com suas consequências, enquanto as corporações continuam se beneficiando.
A autorregulação, uma premissa central e importante para o ESG, é outro espantalho. Confiar que corporações – as mesmas que historicamente devastaram o meio ambiente e exploraram os trabalhadores – liderem o processo de transição para um futuro sustentável é como colocar lobos para vigiar o rebanho. Isto porque as metas de ESG são, na maioria das vezes, definidas pelas próprias empresas, que têm como objetivo lógico o lucro. A sustentabilidade não é um objetivo primário, mas secundário, sendo apenas um rótulo para ser uma empresa, entidade ou organização que pensa no “lucro consciente”.
O Ecossocialismo como alternativa
Diante das limitações do ESG, o ecossocialismo surge como uma alternativa necessária e urgente a essa abordagem limitada. Isto porque, ele rejeita a racionalidade mercantilista que transforma a natureza em uma mercadoria e propõem um modelo baseado na justiça social e ambiental. Ao oposto do ESG, o ecossocialismo reconhece que a crise climática não pode ser resolvida dentro do próprio capitalismo. Em vez de depender de soluções paliativas, ele defende a substituição do sistema por uma economia planejada e democrática, que priorize o bem-estar coletivo e a regeneração ecológica.
A proposta ecossocialista define a gestão dos recursos naturais como um bem comum, retirando-os das mãos do mercado. Nessa abordagem, o futuro do planeta não deve ser decidido pelo capital, mas por processos democráticos que incluam a população diretamente afetada.
Conclusão
O ESG, em sua essência, é uma distração que desvia a atenção de mudanças estruturais necessárias. Ele tenta conciliar o inconciliável: a lógica da acumulação do capital com a sustentabilidade plena. O ecossocialismo, por outro lado, enfrenta diretamente as causas do colapso ambiental e propõe uma reorganização radical das relações econômicas e socias.
Portanto, enquanto o ESG oferece um alívio superficial e ainda mantém o espirito capitalista em sua atividade, não atacando a raiz da crise, o ecossocialismo oferece uma alternativa genuína para um futuro justo e sustentável. Como Marx aponta, a superação para a crise ambiental e social exige a superação do capitalismo e a construção de um novo modelo econômico que estejam em harmonia com os limites ecológicos do planeta.
Diogo Almeida Camargos é formado em Gestão Financeira pelo Centro Universitário Una, Certificado em CPC-P, Especialista em Direito Penal Empresarial e em Direito Penal Econômico pelo Centro Universitário União das Américas, Master in Business em Governança, Risco e Controles e especialista em Direito Empresarial pela Faculdade Cedin.
Referências:
BELLUZZO, Luiz Gonzaga. GALÍPOLO, Gabriel. Dinheiro: o poder da abstração real. 1 ed. São Paulo. Editora ContraCorrente, 2021, p. 21.
LÖWY, Michael. O que é o ecossocialismo? (Coleção questões da nossa época) (Portuguese Edition) (p. 22). Cortez Editora. Edição do Kindle.
2 BELLUZZO, Luiz Gonzaga. GALÍPOLO, Gabriel. Dinheiro: o poder da abstração real. 1 ed. São Paulo. Editora ContraCorrente, 2021, p. 21.
3 Marx, Karl. 1818-1883, O capital: crítica da economia política: livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. 3 ed. São Paulo. Boitempo, 2023. P.338
4 Löwy, Michael. O que é o ecossocialismo? (Coleção questões da nossa época) (Portuguese Edition) (p. 22). Cortez Editora. Edição do Kindle.