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Companheira de Lula por quatro décadas, Marisa Letícia tem morte cerebral


Em comunicado em sua página oficial no Facebook, ex-presidente confirma doação de órgãos

Publicado: 02/02/2017

Da Carta Capital 

Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve morte cerebral na manhã desta quinta-feira 2, em São Paulo, em decorrência de complicações de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) do tipo hemorrágico.

Às 10h29 da manhã, a página oficial de Lula no Facebook anunciou a doação de órgãos de Marisa. "A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva", diz a mensagem. "A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos."

Em boletim médico divulgado pouco antes, o hospital Sírio Libanês afirmou que foi realizado pela manhã um "Doppler transcraniano, sendo identificada ausência de fluxo cerebral". Diante do resultado, com autorização da família, afirmou o hospital, "foram iniciados procedimentos para doação de órgãos".

O desligamento dos aparelhos, e a confirmação da morte oficial, acontece após o procedimento de doação dos órgãos. 

De humilde família de sitiantes, que migraram da Itália para o Brasil, Marisa Letícia nasceu em 7 de abril de 1950 em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Aos nove anos, começou a trabalhar como babá na casa de um sobrinho do pintor Cândido Portinari.

Quatro anos mais tarde, tornou-se operária de uma fábrica de chocolates. Casou-se pela primeira vez com o motorista Marcos Cláudio da Silva, com quem teve um filho. O garoto não chegou a conhecer o pai, assassinado enquanto dirigia o táxi da família. A jovem mãe perdeu o marido enquanto estava no quarto mês de gestação.

Marisa conheceu Lula em 1973, ao ir para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo carimbar documentos da pensão que recebia. O ex-presidente costuma contar que, quando soube que a esbelta mulher de 23 anos era viúva, fez questão de deixar cair um documento que mostrava que ele também era viúvo. O episódio serviu de justificativa para iniciar a conversa, que não tardou a evoluir para um longevo relacionamento.

Os frutos da união de mais de 40 anos são os três filhos do casal: Fábio, Sandro e Luís Cláudio. O ex-presidente também adotou o primeiro filho de Marisa Letícia, Marcos Lula, que tinha apenas dois anos quando o então líder sindical a conheceu.

Inicialmente avessa à política, Marisa preocupava-se com a segurança de Lula quando eclodiram as greves do ABC Paulista. Em 1980, chegou a liderar uma passeata das mulheres em apoio aos sindicalistas presos no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que integrava o aparato repressivo da ditadura. Nesse mesmo ano, participou de um curso de Introdução à Política Brasileira, promovido pela Pastoral Operária de São Bernardo, e filou-se ao recém-criado Partido dos Trabalhadores

Dedicada à família, Marisa teve uma atuação discreta nas primeiras disputas eleitorais de Lula. Em 2002, com os filhos já adultos, pôde se dedicar com mais afinco à campanha presidencial do marido. Em 1º de janeiro de 2003, tornou-se primeira-dama do Brasil.

Nos últimos meses, Marisa vinha sofrendo ao lado de Lula a pressão das investigações da Operação Lava Jato. Em dezembro, também ao lado do ex-presidente, foi convertida em ré pelo juiz federal Sergio Moro, sob a acusação de lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia, o casal adquiriu um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, com recursos da empreiteira Odebrecht. A acusação é negada com veemência pela defesa de Lula, que diz que imóvel é alugado.

"A pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou. Mas isso não vai fazer eu ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue", desabafou Lula na segunda-feira 30, durante um encontro com representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens. Foi a primeira aparição pública do ex-presidente após a mulher sofrer o AVC.

 

Casamento
Em maio de 1974, seis meses após se conhecerem, Lula e Marisa se casaram (Acervo/Instituto Lula)

A evolução da doença


Marisa Letícia sofreu uma forte queda de pressão na manhã de 24 de janeiro. Chegou a receber os primeiros cuidados em um hospital de São Bernardo do Campo, mas logo foi transferida ao Sírio-Libanês, na capital paulista. Ao chegar, foi submetida a uma cirurgia de emergência, para a oclusão de um aneurisma que havia se rompido. Desde então, passou a maior parte do tempo sedada, em coma induzido.

O aneurisma é a dilatação anormal de uma artéria que irriga o cérebro. Ele costuma ocorrer em regiões enfraquecidas da parede de um vaso sanguíneo. Quando ocorre o rompimento, o sangramento pode provocar danos irreversíveis às células localizadas ao redor da lesão.

Do Brasil 247

Relembre texto postado pela jornalista Hildegard Angel em homenagem à ex-primeira-dama:

Hildegard Angel, em seu blog

"Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de "a Cara" por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À "companheira" número 1 da República, muito osso, afagos poucos. Ah, dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família? Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve.

Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade. Depois, implicaram com o silêncio dela, a "mudez", a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão? Ah, mas tudo que "eles" queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar poderoso de doutorados e mestrados. Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia. E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom?

Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade. Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e as brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto. Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar "emergentes" metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo "arrodeado" de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.

Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada. No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita. Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor!

Cobraram de Marisa Letícia um "trabalho social nacional", um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social. Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo. Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam.

Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece."

Confira reportagem da Agência Brasil sobre a morte de Dona Marisa: 

Ex-primeira dama Marisa Letícia tem morte cerebral

A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, 66 anos, teve morte cerebral hoje (2). Ela está na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês desde o dia 24 de janeiro.

Segundo boletim médico, foi realizado um doppler transcraniano que identificou a ausência de fluxo cerebral na paciente. Diante do resultado e com autorização da família, foram iniciados os procedimentos preparativos para a doação de órgãos.

Pelo Facebook, a família da ex-primeira-dama agradeceu as manifestações de afeto recebidas no últimos dias. "A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação de órgãos", diz a mensagem na rede social.

A ex-primeira-dama foi internada após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Marisa foi acompanhada pelas equipes coordenadas pelos médicos Roberto Kalil Filho, Milberto Scaff, Marcos Stávale e José Guilherme Caldas.

Mulher discreta

Marisa Letícia Lula da Silva, nasceu em São Bernardo do Campo (SP), em 1950, sob o nome de Marisa Letícia Casa. Figura discreta ao lado do marido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa começou a trabalhar aos nove anos, como babá na casa de um sobrinho do pintor Cândido Portinari. Cresceu em uma família de onze irmãos e casou-se aos 19 anos com o taxista Marcos Cláudio da Silva. Três meses depois e grávida do primeiro filho, Marisa viu-se viúva após Marcos Cláudio ser assassinado durante um assalto.

Em 1973 conheceu Lula no Sindicato dos Metalúrgicos. Sete meses após se conhecerem, casaram. Com Lula, teve três filhos. Também compõem a família Marcos, filho do primeiro marido, e a enteada Lurian, filha de outro relacionamento de Lula. Marisa esteve ao lado de Lula durante sua ascensão política, desde os tempos de sindicato, passando pela fundação do PT – que ajudou a criar – até a presidência da República, em 2003.

Marisa foi condecorada, em 2003, com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Real, concedida pelo rei Haroldo V e a rainha Sônia da Noruega, durante a visita ao Brasil. Também foi condecorada por Portugal com a Ordem da Liberdade, também em 2003, e a Ordem Militar de Cristo, em 2008.

Durante os anos no Palácio da Alvorada, Marisa não encabeçou projetos sociais, função comum às primeiras-damas anteriores, e deixava os holofotes para o marido. Mas durante as corridas presidenciais participava, junto com ele, de comícios, passeatas e outros compromissos de campanha. Em 2011, incentivou Lula a realizar os exames que descobririam um câncer na laringe. Foi Marisa que cortou os cabelos e a barba do marido, antecipando os efeitos da quimioterapia.

Em 2016, a ex-primeira dama viu seu nome envolvido nas investigações da Operação Lava Jato. Tornou-se ré nas investigações após a Justiça acatar a denúncia do Ministério Público Federal contra ela e Lula no caso do triplex no Guarujá (SP). Mesmo aceitando a denúncia, o juiz Sérgio Moro "lamentou" as acusações envolvendo Marisa Letícia. Segundo o juiz, há dúvidas se a esposa de Lula tinha conhecimento dos supostos crimes envolvendo acertos de propina no esquema da Petrobras.

 

 

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