SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO

(81) 3131.6350 - [email protected]

Home | Notícias

Boulos: “Temer abriu um período de instabilidade e conflito social no país”


Pela terceira noite seguida manifestantes reuniram-se na Paulista em protesto contra o golpe parlamentar. E na noite de ontem, os ânimos estavam ainda mais exaltados após a votação que decretou o impedimento definitivo de Dilma Rousseff

Publicado: 01/09/2016
Escrito por: Diário do Centro do Mundo

Pela terceira noite seguida manifestantes reuniram-se na Paulista em protesto contra o golpe parlamentar. E na noite de ontem, os ânimos estavam ainda mais exaltados após a votação que decretou o impedimento definitivo de Dilma Rousseff. Uma goleada de 61 a 20.

Mais uma vez o roteiro foi o mesmo das noites anteriores. Saindo do MASP não se pode ir na direção da FIESP.

Os golpistas continuam ali, são donos do pedaço e intocáveis. Um claro sinal de provocação. Então logo um maciço cordão policial se forma na avenida e dali ninguém passa. Se quiser andar, a manifestação precisa ir sempre no sentido oposto.

Eram milhares de pessoas que uniram duas concetrações marcadas com poucos metros de distância entre elas. Uma no MASP e outra na Praça do Ciclista.

Guilherme Boulos estava presente e falou ao DCM:

DCM – Como viu o resultado de hoje?

BoulosO que não podemos dizer é que o resultado não era previsível. A farsa estava montada, ali nenhum argumento funcionaria. A decisão do Senado e do Congresso já estava tomada.

Como será de agora em diante?

O Senado não tem legitimidade para definir o destino do povo brasileiro. Ainda mais um Senado corroído pela corrupção, cheio de canalhas que fizeram uma eleição indireta. Por isso a resistência vai se intensificar nas ruas.

Temer se sustentará?

Ele tem uma blindagem fortíssima, é preciso reconhecer. Tem blindagem midiática, tem apoio no Congresso, tem um bloco do empresariado sustentando o governo dele. É forte, mas não tem legitimidade social. Então abriu-se um período de instabilidade e conflito social no país.

Também repetitiva foi a atuação da polícia que, a certa altura, decide terminar com a manifestação. Resolve que deve atacar e pronto. Foi o que novamente ocorreu na rua da Consolação. Então recebemos aquela chuva de meteoros bélicos. Seis, oito, dez bombas simultaneamente vindas do céu sobre a aglomeração de pessoas desarmadas e indefesas.

Daí os olhos queimam, a garganta fecha, o oxigênio acaba. A ação violenta e repressora provoca a reação dos mais novos e mais exaltados. Agências bancárias tornam-se alvo preferido. O centro da cidade virou praça de guerra. Uma quebra na ordem, mas estamos vivenciando um golpe, qual é a ordem estabelecida num país que retira um presidente na mão grande?

Protestos ocorreram em diversas cidades ontem. Mas protestar contra o atual governo é colocar em risco sua integridade física. Se os protestos irão se intensificar como previu Guilherme Boulos é algo a conferir pois a repressão policial muitas vezes funciona. Quem tem olho tem medo de bala de borracha.

Coragem, entretanto, parece não faltar, por enquanto. E objetividade nos recados também. “Temer, seu otário. O seu governo continua temporário”, cantavam os manifestantes.
O afastamento de Dilma, tida por seus aliados e até mesmo por seus opositores como uma mulher honesta, foi questionado na imprensa internacional essa semana. Matéria do jornal The Washington Post, um dos principais dos Estados Unidos, descreve que adversários políticos “se uniram pela retirada de Dilma sabendo que era injusto” . O The Guardian, da Inglaterra, fala em desejo de barrar a operação Lava Jato. O Le Monde, da França, fala em “golpe encenado”. Na Argentina , Espanha, Portugal, Rússia e até no Oriente Médio, a repercussão foi parecida.

O programa do golpe

Para Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, cientista político e ex-ministro do governo FHC, a população brasileira e classe política pagarão caro pela destituição de Dilma Rousseff, no que ele chama de “farsa jurídica”. Ele alertou, em publicação nas redes sociais, para o retrocesso da agenda conservadora prometida por Temer às elites econômicas do país que apoiaram o impeachment. O governo prepara para as próximas semanas o anúncio de um plano de privatizações que vai incluir, segundo disse o próprio Temer, “tudo o que for possível vender”, especialmente empresas do setor elétrico e de infraestrutura.

Além disso, já tramita no Congresso uma proposta de emenda constitucional que congela por 20 anos o crescimento dos gastos públicos. Na prática, a medida vai reduzir, ao longo dos anos, recursos públicos para áreas como saúde, educação, meio ambiente, saneamento básico, ciência e tecnologia, entre outros. A proposta, por outro lado, não mexe no pagamento de juros da dívida pública para banqueiros e rentistas. Outros dois projetos que devem ser apresentados ainda este ano é a reforma na previdência, que poderá aumentar a idade mínima e tirar o salário mínimo como piso do INSS. A mudança na legislação trabalhista também está prevista, e pode flexibilizar direitos da CLT, como férias, 13º salário e aumento de jornada.

Para a socióloga Eliana Graça, o impeachment vai agravar a crise política no país, justamente porque virá acompanhado de uma agenda de governo que não foi eleita nas urnas. “Trata-se de aprofundar a crise e não solucioná-la. As propostas do Temer são tão regressivas e neoliberais que  já não são mais recomendadas nem pelo próprio FMI [Fundo Monetário Internacional]”, opina. 

Edição: José Eduardo Bernardes

« Voltar


Receba Nosso Informativo

X