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A crise e a superação


A supervisora técnica do Dieese em Pernambuco, Jackeline Natal, fala sobre economia e 'crise'

Publicado: 05/08/2015

Ascom Sindsep-PE

Diante da crise econômica nacional tão propagada pela imprensa brasileira, o jornal Garra decidiu ouvir uma especialista para que nossos leitores tenham uma ideia real do que está acontecendo no País. Esta entrevista com a economista e supervisora técnica do Dieese em Pernambuco, Jackeline Natal, aborda o assunto seriamente. Sem o ranço político da direita e dos grandes meios de comunicação do Brasil.

GARRA – O Brasil passa por uma retração econômica. Qual o motivo desta crise?

JACKELINE NATAL – São vários os fatores. Dentre eles, a persistência de uma das piores crises capitalistas na nossa era. Desde 2008 os países desenvolvidos estão afundados numa grave crise que vai de recessão em alguns casos a baixos patamares de crescimento em outros. A taxa média de desemprego na Europa está em 11,3%; na Espanha 23% e na Alemanha 6%. Nos Estados Unidos, a taxa de 5,5%, aparentemente baixa, se explica em grande parte pela redução da taxa de participação, ou seja, da desistência das pessoas em procurar emprego. Aliado a isso, tem-se a diminuição do ritmo do crescimento chinês, principal parceiro comercial brasileiro. Este quadro afeta fortemente as contas externas do Brasil via redução do volume de exporta- ção e redução da cotação desses mesmos produtos, reduzindo, por exemplo, o saldo comercial, que passou a ser negativo desde o final de 2013, além de comprometer cadeias produtivas ligadas aos setores exportadores. Os baixos preços do petróleo contribuem para este cenário, na medida em que afetam a economia de parceiros comerciais relevantes para o Brasil, como é o caso da Rússia e dos países árabes. Internamente, podemos destacar um esgotamento do modelo de crescimento adotado desde o primeiro governo Lula, devido à falta de adesão do capital privado à dinâmica de investimentos coordenada pelo Estado. O modelo foi baseado na expansão do mercado interno através do aumento do gasto público com investimentos, programas de transferência de renda, valorização do salário mínimo e ampliação do crédito e teve impactos diretos na condição de vida da população, com a geração de emprego, aumento na renda do trabalho, redução da miséria, dentre outros. No governo Dilma, foram implementadas diversas medidas de redução de custo de produção com vistas ao aumento da competitividade, redução da taxa de juros reais aos menores patamares da nossa história recente, tudo com o objetivo de atrair o investimento privado, o que não aconteceu. Com a redução da dinâmica econômica e a política de desoneração de impostos, a arrecadação fiscal foi minguando, comprometendo a capacidade de o Estado sustentar o atual volume de gastos.

GARRA – Os grandes meios de comunicação nos dão impressão de que estamos vivendo uma catástrofe econômica. Esse terrorismo pode ter piorado a situação?

JACKELINE – O Brasil está passando por uma situação bastante difícil, isto é fato. Neste aspecto, o tratamento que a grande mídia tem dado aos indicadores negativos divulgados, decorrentes da crise em que nos encontramos, ignora os avanços pelo quais a economia passou e lança tintas sobre os dados recentes, desprezando o fato de que a base de comparação dos indicadores atuais é significativamente superior aos do início deste século, por exemplo. Criando uma sensação de que na verdade tudo que se estruturou nos últimos anos está inexoravelmente em cheque. Este quadro de desconstrução associadas às incertezas inerentes ao funcionamento da economia capitalista e a instabilidade política deterioram ainda mais as expectativas de recuperação da economia e contribuem sobremaneira para que os capitalistas brasileiros e estrangeiros mantenham seus recursos longe das atividades produtivas geradoras de riquezas, emprego e renda, alimentadas ainda mais pela política de aumento da taxa de juros.

GARRA – Por que a crise do Brasil não pode ser comparada à crise da Grécia?

JACKELINE – O Brasil, ao invés da Grécia, enfrentou a crise apostando no crescimento econô- mico e não em ajustes. Além disso, enquanto a relação Dívida/PIB da Grécia está na casa dos 180%, a do Brasil está no patamar de 65%. Patamar que deve aumentar este ano por conta da recessão e da política de juros, mas nem de longe se equipara a da Grécia. Mesmo assim, o mercado financeiro internacional deve especular muito com a situação fiscal do Brasil, inclusive com a ameaça de rebaixamento da classificação de risco do país.

GARRA – Como o Brasil pode superar esse momento?

JACKELINE – Tendo em vista as incertezas do cenário internacional, o Brasil deveria se voltar mais para o mercado interno. Há uma demanda interna ainda significativa em termos de políticas sociais, infraestrutura, reforma urbana, transporte, saneamento, habitação, reforma agrária, uma agenda inteira que pode nos dar 15 anos de crescimento. O desafio, do lado sindical, é recolocar o emprego como prio-ridade fundamental e o centro da estratégia de crescimento. A política econômica deve vigorosamente retomar o desenvolvimento industrial com uma política cambial competitiva. É preciso que, na “pátria educadora”, o cidadão que daí emerge seja capaz de produzir ciência, criar tecnologias que se transformam, no chão da empresa, em inovação. É necessário agregar valor nas nossas vocações econô- micas que nos permitam participar do comércio mundial em condições de equilíbrio e atender à demanda interna gerando empregos de qualidade aqui.

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