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O acordo Cunha-Temer e o tributo do crime aos 'movimentos anticorrupção'


Publicado: 29/03/2016

Por Kiko Nogueira

Do DCM

Se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, o acordo de Cunha com Temer para livrá-lo da cassação é o tributo do crime ao inocente útil que o colocou no poder.

Falo em inocente útil, mas, no final das contas, não se trata nem de uma coisa e nem de outra. O bando mal intencionado e desinformado usado pelos grupos que perderam a eleição em 2014 está tendo o que merece.

Toda a gritaria sobre corrupção, acompanhada por clichês como “cleptocracia” e velhacarias da Guerra Fria, fartamente insuflada e coberta pela mídia, caminha para a fraude anunciada.

A presidente que não cometeu crime será enforcada no Congresso por uma quadrilha implicada em lavagem de dinheiro, sonegação, fraude fiscal etc etc — mas uma quadrilha de branco, de bacana, de chefia.

Segundo a colunista Mônica Bergamo, o combinado Cunha/Temer funciona assim: “Ele renunciaria à presidência da Câmara dos Deputados sob o argumento de que o novo governo precisaria articular nova maioria no parlamento. Seria suspenso pelo conselho de ética, mas manteria o cargo, garantindo o foro privilegiado”.

Com o filme queimado e líderes escorraçados de passeatas coxas, o PSDB desistiu de tentar destituir a chapa e apoia o vice Michel. A ideia, como frisou o relator do impeachment, deputado Jovair Arantes, é fazer um “pacto” com o Judiciário — leia-se abafar a Lava Jato.

Essas costuras não levam em consideração os russos. Não haverá folga dos movimentos sociais e de milhões de cidadãos que estão vendo seu voto ser jogado no lixo. O golpe é branco, mas a reação não será. Se a conspiração é transmitida em real time, a defesa da democracia também será.

E os “movimentos” contra os corruptos? E os donos do pixuleco? E os indignados que queriam “um Brasil mais limpo”?

O MBL, do anão moral Kim Kataguiri e associados, postou um avisou desesperado no Facebook: “A gente não fez tudo isso para você ir lá e votar na Marina”, diz o texto, sobre uma foto de um protesto.

Primeiro, é de se perguntar o que é “tudo isso”. Desenterrar idosos pedindo intervenção militar? Levar torturadores para a avenida, como Carlinhos Metralha? Bater em gente de camiseta vermelha? Usurpar os símbolos nacionais? Berrar “Vai pra Cuba”?

“Tudo isso” dá dimensão do grau de loucura desse pessoal. Eles colocaram os patriotas nas ruas!

Mas enfim os estúpidos caem na real: vai dar na porcaria da Marina, então? Usados pelos que se dão bem em qualquer situação há décadas, abriram um vácuo político — e em política, como dizia Ulysses Guimarães, não há vazio de poder.

Esse vácuo está sendo preenchido na vontade das pesquisas, hoje, por Marina Silva e Jair Bolsonaro, com Sergio Moro no banco de reservas. Ou o MBL queria proibir seus seguidores de votar em quem eles quisessem? Kataguiri e apaniguados vão enviar milícias à casa das pessoas, como fizeram com o filho de Teori Zavascki, para fiscalizar?

Não se sai impune de se conspurcar a democracia. Esses cúmplices do caos já estão pagando. E isso é uma parte pequena da conta que vai sobrar para todos nós.

Kiko Nogueira é diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.



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