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Mudança climática: a corrida contra o relógio


Publicado: 23/10/2015

Da Carta Maior

Alejandro Nadal - La Jornada, México

Existe a possibilidade de evitar uma catástrofe climática. Mas a janela da oportunidade está se fechando rapidamente. A conferência sobre o clima, que acontecerá em Paris, dentro de seis semanas, será um momento decisivo dessa corrida contra o relógio.
 
Há anos, o objetivo em termos de emissões de gases do efeito estufa tem sido estabilizar a concentração na atmosfera num nível de 450 partes por milhão (ppm). Essa meta requer cortar 80% das emissões até o ano de 2050, o que permitiria assegurar que a mudança na temperatura global não supere os 2 graus centígrados.
 
Vendo o cenário atual, parece muito difícil alcançar a meta das 450 ppm. Para isso, os países ricos já deveriam estar reduzindo significativamente suas emissões, pensando no ano 2025, que já está bem próximo, para que esses gases do efeito estufa, produzidos por países ricos e pobres, possam ter seus índices em queda constante nos anos posteriores. Existe a possibilidade de se chegar a essa meta, mas bem pequena, e cada vez menor.
 
A 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas (UNFCCC) se realizará em Paris, entre o final de novembro e o começo de dezembro. O instrumento de base para as negociações da COP21 foi divulgado no dia 5 de outubro, e está marcado por sérios problemas. Se trata de um documento de vinte páginas, do qual depende o destino da humanidade, literalmente.
 
Como se sabe, as negociações da COP21 se realizarão com cada país sendo chamado a apresentar seus compromissos nacionais independentemente determinados – os agora conhecidos como INDC, por sua sigla em inglês. Esses compromissos são a resposta à seguinte pergunta: quem determina as reduções de emissões que cada país deve aplicar? Tendo em vista que as negociações sobre reduções das emissões estão travadas há anos (seis anos, para ser mais exato, desde a conferência de Copenhague), se pensou que seria melhor cada país em liberdade absoluta para estabelecer suas metas nacionais.
 
Hoje, já temos diante de nós os compromissos nacionais que foram entregues de forma voluntária ao secretariado da UNFCCC. O resultado é realmente decepcionante. Vários destacados economistas realizaram cálculos: a soma de todas as metas nacionais corresponde a apenas 44 gigatoneladas de CO2 equivalente, quando o que se necessita é um corte de 55 gigatoneladas para o ano de 2050 para que nos manter a temperatura do planeta abaixo dos 2 graus centígrados.
 
É de se esperar que daqui até a inauguração da COP21 na capital francesa, vários países modifiquem seus compromissos nacionais, para poder chegar a esse objetivo. Mas o documento de negociação tem um defeito: não contém um mecanismo que garanta o cumprimento por parte de cada país de suas metas individuais independentemente determinadas.
 
Na verdade, existem poucas esperanças de estabilizar a concentração de gases do efeito estufa em 450 ppm. Para chegar a este objetivo, as emissões não podem superar um nível absoluto entre 800 e mil gigatoneladas de CO2: desde 1880, já emitiram 535 gigatoneladas. E do restante já se encontram comprometidas umas 250 gigatoneladas, devido aos investimentos já realizados na infraestrutura ligada à indústria de combustíveis fósseis em todas as suas formas. As companhias que realizaram esses investimentos querem evadir as metas, e para isso vão fazer tudo o que for possível para que suas instalações continuem funcionando e emitindo gigatoneladas de CO2. Enfim, estamos amarrados a uma trajetória que leva a um cenário de surpresas realmente desagradáveis a respeito do clima.
 
No mundo financeiro também existem forças que pretendem nos manter amarrados a essa trajetória. Hoje, as 200 principais empresas ligadas à indústria de combustíveis fósseis têm um valor de mercado próximo aos 4 trilhões de dólares e uma boa parte disso corresponde ao valor de suas reservas. No caso de se conseguir um acordo significativo na COP21, com um compromisso claro para reduzir as emissões, o valor dessas reservas deverá sofrer um forte ajuste para baixo, talvez até um 60%. As conexões entre a indústria de combustíveis fósseis e o mundo financeiro são muito fortes e isso traria sérias consequências. Por exemplo, se estima que os fundos de pensão e as contas individuais de aposentadoria nos Estados Unidos possuem 47% das ações das companhias de petróleo e gás natural desse país. É evidente que também existe, por parte do setor financeiro, uma resistência a mudar o perfil energético da economia mundial.
 
Só a pressão dos povos de todos os países pode reverter essas forças. Quem sabe ainda há tempo, independente do que aconteça na COP21.
 
Tradução: Victor Farinelli



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