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Delações da JBS deixam nu o jornalismo da Globo, por Wilson Ferreira


Publicado: 19/05/2017

Por Wilson Ferreira

Do GGN

Ao vivo repórteres e apresentadores nervosos, consternados, engolindo seco em uma profusão exponencial de gafes e atos falhos poucas vezes vista. Os jornalistas da Globo parece que foram pegos de surpresa: depois de diariamente martelar a narrativa da governabilidade e do “ruim com ele, pior sem ele”, de repente (como se fosse virada alguma chavinha seletora) o discurso mudou radicalmente. Tudo após a explosão nuclear das delações premiadas dos donos da JBS (terceiro maior anunciante da Globo) reveladas em suposto “furo” do jornal “O Globo”. E ainda com direito a cobertura com imagens estilo “black bloc” mostrando rolos de fumaça subindo diante do Palácio do Planalto em noite de protestos.

Por que a surpresa consternada dos jornalistas globais, tidos como os mais bem informados e conhecedores dos bastidores do País,  como diz marketing da emissora? Mais do que provocar um terremoto político, as delações da JBS deixaram nu o jornalismo global: revelou profissionais alheios à realidade e que apenas repetem discursos ao sabor da mudança dos interesses corporativos da Globo. Mas isso traz um custo psíquico aos incautos jornalistas da emissora.

Certa vez a fonoaudióloga Glorinha Beuttenmüller, responsável pelo padrão discursivo de repórteres e âncoras do telejornalismo da Globo, disse de forma dura: 

“O apresentador não pode representar as palavras. Tem de ser parcial e exprimir as ideias da empresa em que trabalha. (…) a essência [da palavra] empregada vem da casa. Por exemplo, a palavra cadeira é dita da mesma forma por todo mundo, mas se ela é confortável ou desconfortável, é a empresa que vai dizer. Em qualquer emissora, os apresentadores são escravos, têm que parecer imparciais e, ao mesmo tempo, ser parciais, de acordo com a vontade da empresa” – clique aqui.

Uma dramática demonstração que comprova a descrição dessa especialista “insider” foi dada ontem, e continua no dia de hoje, com as “denúncias-bomba” que explodiram nas telas da emissora dando conta das gravações que os donos do frigorífico JBS entregaram à Polícia Federal mostrando como o desinterino Michel Temer deu aval à compra do silêncio de Eduardo Cunha e como o senador Aécio Neves pediu propina de R$ 2 milhões.

Apresentadores e repórteres gaguejando, engolindo seco, trocando nomes, fazendo trocadilhos involuntários. Gafes e mais gafes em profusão. 

Em ato falho William Bonner chamando o desinterino de “ex-presidente” (hoje a apresentadora Maria Beltrão do Estúdio i da GloboNews cometeu o mesmo lapso) ; a apresentadora Renata Vasconcelos antecipando suas falas atropelando Bonner;  a apresentadora da GloboNews, Cecília Flesch, perdendo a dicção, se enrolando em nomes e esquecendo, por exemplo, o nome do bairro em BH onde a irmã do Aécio foi presa.

Eliane Catanhêde (aquela da foto que viralizou na qual se mostra relaxada e rindo ao lado de Temer) tentando manter a postura fleumática enquanto as mãos mexiam nervosas; gaguejando, o comentarista Valdo Cruz, também GloboNews, tentava manter a narrativa lamentando a crise num momento “positivo” para a economia; a repórter Andréia Sadi, visivelmente nervosa e estressada ao vivo diante do Palácio do Planalto, atropelando as palavras e dizendo, de passagem, que já estava indo embora... 

Foi “furo” do jornal O Globo?

O fato é que a cúpula da emissora já sabia dessas delações da JBS há uma semana. E os jornalistas da emissora parece que foram os últimos a saber, enquanto, até o último instante, mantinham a narrativa da continuidade de Michel Temer em nome da governabilidade, a necessidade das reformas e da recuperação da economia. 

Ao vivo, todos pegos de surpresa com a obrigação de repentinamente terem de mudar o discurso martelado diariamente desde o impeachment da presidenta Dilma. 

Se na hora do almoço o “imortal” da Academia de Letras, Merval Pereira, defendia nas telas a manutenção do presidente desinterino no julgamento da chapa Dilma/Temer no TSE, mudou abruptamente o discurso à noite com o rosto tão perplexo quanto no dia em que soube da vitória apertada de Dilma nas eleições de 2014.

O suposto “furo” na coluna de Lauro Jardim no jornal O Globo nada mais foi do que o sinal verde da cúpula das Organizações Globo.

Mais do que supostamente dar um “furo” e brincar de jornalismo investigativo, mais do que noticiar uma grave crise política, a Globo desvelou-se a si mesma: o seu jornalismo ficou nu como demonstrou a impagável propagação exponencial de olhos perplexos, gafes, atos falhos e palavras atropeladas no transcorrer dos telejornais.

 

Instantânea mudança de narrativa
 

Tudo pareceu como se alguma chavinha seletora fosse virada e, automaticamente, a narrativa fosse mudada de um segundo para outro: da necessidade imperiosa de manter Temer para o País sair da crise (o tom era “ruim com ele, pior sem ele”), de repente tudo mudou para a urgente necessidade de renúncia, impeachment ou mesmo cassação pelo TSE. Governabilidade e economia agora que se danem!

Mas isso tem um custo psíquico para os pobres jornalistas globais: stress, nervosismo e consternação.

E mais! A Globo chegou a ensaiar momentos black bloc mostrando grupos protestando diante do Palácio do Planalto na noite de ontem, com sugestivos enquadramentos de câmera: o Palácio ao fundo com rolos de fumaça preta começando a subir – uma sugestiva exortação para protestos. Globo começa a conclamar o povo para as ruas? Globo virou black bloc mais uma vez? 

Assim como quando se posicionou diante da surpreendente vitória de Donald Trump nos EUA?

Os donos da JBS revelaram mais do que os podres do desinterino Temer, Aécio Neves e próceres da República.



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