A Marcha das Vadias e a luta pelo fim da violência contra a mulher
Publicado: 14/05/2015
Por Ana Veloso
No próximo dia 30 de maio, o Recife vai ser tomado, pelo quinto ano consecutivo, pela Marcha das Vadias. Movimento que vem conseguindo colocar mais de dez mil pessoas nas ruas nos últimos dois anos, a trajetória pública das Marchas das Vadias teve início em 2011 e 2012, quando grupos femininos resolveram realizar caminhadas para protestar contra a violência e em oposição ao fundamentalismo religioso e pela liberdade de expressão das mulheres em todo mundo.
O movimento surgiu no Canadá, em 2011, quando cerca de três mil manifestantes saíram às ruas para protestar contra a postura de um policial que recomendou que as mulheres evitassem se vestir de maneira provocante para não serem vítimas de estupro. A manifestação ficou conhecida como Slutwalk, e rapidamente se espalhou para diversas partes do mundo, como Los Angeles, Chicago, Buenos Aires e Amsterdã, e, já em 2011, ocorreu em algumas cidades brasileiras.
As marchas contam com mobilizações realizadas também pela internet, visam ao fim da violência de gênero e protestam contra a ideia de que as mulheres vítimas de violência sexual são responsáveis pelos crimes que sofreram, por estimularem seus agressores com comportamentos sensuais e roupas chamativas e curtas. Contudo, o que as marchas têm conseguido evidenciar é que a cultura da violência contra as mulheres faz cada vez mais vítimas ao redor do globo.
Entre os anos de 1980 e 2010, o feminicídio dizimou 92 mil brasileiras, sendo 43,7 mil só na última década. Apesar dos esforços empreendidos pelo Estado brasileiro para enfrentar o fenô- meno, sobretudo nos últimos dez anos, quando a pressão do movimento feminista levou o governo Lula a sancionar a Lei Maria da Penha, em 2006, as mulheres brasileiras ainda sofrem com os altos índices de atentados contra as suas vidas. Dados do Instituto Sangari (2012) revelam que o número de homicídios saltou de 1.353 para 4.465, no período. O levantamento também aponta que o número de homicídios de mulheres aumentou 17,2% entre 2001 e 2011.
Quando observamos esses dados e refletimos sobre a importância da população ir às ruas protestar contra o machismo e o sexismo, responsáveis pela perpetuação do lugar de subordinação feminina em nossa sociedade, percebemos o quanto ainda precisamos avançar para romper com o silêncio que muitas vezes envolve os crimes praticados contra as mulheres. Ainda é possível evidenciar, quando estudamos os dados dessa barbárie, que parentes próximos, tais como companheiros, pais, irmãos e padrastos emergem entre os principais agressores.
Estamos lidando com uma situação na qual a vítima é agredida, sobretudo no ambiente doméstico.
Para romper com o ciclo de violência, que coloca as mulheres em posição de vulnerabilidade social, além da institucionalização de políticas públicas, coordenadas por organismos de mulheres e políticas estruturadoras nos campos da saúde, educação, cultura, segurança, comunicação etc., teremos que discutir a própria organização da sociedade patriarcal brasileira, que ainda legitima a cultura do “estupro corretivo”. A prática é usada como arma pelos sexistas e homofóbicos que se julgam no direito de cometer crimes contra a humanidade para “corrigir” mulheres que amam mulheres.
Portanto, diante de tantas situações grotescas que ameaçam a integridade física e psicológica da população feminina, devemos nos juntar aos movimentos sociais que, no dia 30 de maio, estarão nas ruas também para marchar pelo fim da violência contra as mulheres!
Ana Veloso é pesquisadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco